Inovar é preciso, mas como fica o Apetite aos Riscos?

O mercado de seguros precisa inovar para crescer, encontrar novos clientes e negócios, mas para isso é necessário que assuma riscos.

A quebra de vários paradigmas que advém da recente onda de flexibilização regulatória, que ainda está em curso, só surtirá efeito se as seguradoras de fato ampliarem o apetite por subscrever riscos, ampliando a oferta de possibilidades de coberturas de seguros e produtos de seguros.

Por exemplo, um proprietário de imóveis que construiu ao longo dos anos um edifício de uso residencial ou misto, com alguns pavimentos, com unidades para locação, dificilmente conseguirá contratar seguro para este imóvel, porque a maioria das seguradoras é míope para esta demanda, com raras exceções, seja para Cobertura Básica, seja para as demais coberturas, incluindo a Responsabilidade Civil do Proprietário de Imóveis (pela existência, uso e conservação).

A demanda para isso existe e é urgente, pois não se admite mais que em um país empreendedor (por conceito, oportunidade ou necessidade), segurados não encontrem cobertura para os seus riscos expostos.

A situação piora quando novos empreendedores, responsáveis por novos modelos de negócios que estão surgindo, também não encontram cobertura para os riscos a que estão expostos. É uma nova geração bem mais consciente, ávida por proteção de patrimônio e das suas​ responsabilidades, questionadora, que não se conforma com respostas lacônicas como “fora da nossa política de aceitação”. Apenas como exemplo, equipamentos de empreendedores digitais, como uma mera placa de vídeo “gamer”, pode custar R$ 30 mil, mas o mercado ainda não compreende que as soluções securitárias devem acompanhar a modernidade e que não se enquadram no que há na prateleira.

Seguros residenciais são outro exemplo. Com as mudanças climáticas, a prevalência de eventos como alagamentos, inundações, danos elétricos e vendaval são mais frequentes que incêndios, mas os seguros ainda não são concebidos para todos os riscos (all risks), sendo insuficientes em termos de proteção efetiva, o que afasta a demanda.

Particularmente, ainda não estou muito animado com o que vem saindo do Sandbox, com raras exceções, porque o que vejo são produtos desidratados e por isso mais baratos, vendidos de forma direta, com informações imprecisas, comercializados por influenciadores, sem auxílio de corretores de seguros, que tendem por isso a não vingar e ganhar escala. Faz parte do jogo e da curva de aprendizado, mas o modelo proposto pela Susep é interessante.

Uma das poucas surpresas é um seguro de pessoas que bonifica de várias formas os beneficiários que aceitarem compartilhar os seus hábitos de cuidados com a saúde. Sem dúvida isso sim é pensar fora da caixa.

Na área corporativa as soluções de seguro ainda são limitadas e, por assim dizer, seguem velhas cartilhas. Por exemplo, em Seguros de Responsabilidade Civil (recentemente reposicionado e flexibilizado pela Susep) ainda não se encontra cobertura para riscos profissionais de empresas que atuem em consultoria de engenharia ou em offshore, o que é inadmissível, por puro preconceito ou mesmo desconhecimento dos subscritores, que nunca pisaram em uma plataforma de petróleo.

O mesmo acontece com a Responsabilidade Civil pela Prestação de Serviços em Locais de Terceiros que praticamente limita a oferta a empresas de limpeza e jardinagem, quando há inúmeros serviços profissionais que poderiam ser elencados e subscritos.

Para inovar é necessário reformar a cabeça de quem pretende atuar em seguros e formar subscritores de risco, o que não está disponível nas grades tradicionais das escolas que se propõem a capacitar pessoas para o mercado, o que é necessário e até urgente.

É necessário, por assim dizer, mergulhar no entendimento do apetite ao risco de subscrição, entendendo que o Apetite ao Risco é o nível de risco que uma organização está disposta a aceitar enquanto persegue seus objetivos. Significa dizer que se uma seguradora quer crescer precisará subscrever riscos, claro que tomando os devidos cuidados e proteções, sem o que se assemelhará a atuação dos corretores de seguros.

Ao longo da pandemia, desde que o movimento de cobertura das mortes por COVID nos seguros de pessoas se iniciou, vimos dois movimentos: os das seguradoras que compreenderam o seu papel social e garantiram cobertura aos seus segurados, olhando para frente e para o desenvolvimento de um mercado promissor mais a frente, enquanto outras, até internacionais, foram no sentido contrário, enviando até cartinhas de cancelamento de apólices aos segurados, que se viram desamparados e excluídos.

Também é fundamental que os corretores de seguros abram os olhos para o novo momento de transição e se preparem para as demandas que já estão batendo na porta, que exigem consultores que possam opinar sobre a gestão de riscos de seus clientes, ofertando soluções que possam dar resposta a esses riscos.

O diferencial de relacionamento que permitirá a sustentabilidade dos negócios será sem dúvida o conhecimento sendo imperativo que os corretores de seguros e os subscritores invistam na sua formação continuada, o que se faz abraçando as oportunidades de capacitação.

Para inovar é preciso entender as demandas, mas também conhecer os riscos e para isso há que se investir em estudar o assunto.

Por Sergio Ricardo de M Souza, MBA, MS.c

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